Ouço o sapo de louça a chamar bandidos aos residentes do bairro visitado pelo Marcelo, ouço‑o a perguntar “e então os portugueses?” enquanto brande fotografias que os identificam, ouço‑o a defender um regime presidencialista porque dessa forma as pessoas elegem “o seu homem”, ouço‑o dizer que será presidente dos “portugueses de bem”, ouço‑o dizer que mais dia menos dia um governo de direita será impossível sem a participação do seu partido, e ouço tudo isto enquanto em Washington o Capitólio é ocupado por apoiantes de um outro sapo de louça, mas em laranja, que apelou à acção porque não quer sair do lugar que perdeu, e há um calafrio que me corre espinha acima. Já não há espaço para equívocos, o paralelismo dos métodos e da intenção é evidente.
Ao ver as janelas quebradas na “casa da democracia” americana, não pude deixar de lembrar-me de Wilson e Kelling e da sua “Teoria das Janelas Quebradas” que resumidamente significa que se queremos evitar vandalismo, temos de resolver os problemas enquanto eles são pequenos – se deixarmos uma janela por consertar, elas serão partidas uma após outra, e a casa vandalizada, ocupada, tudo porque não tapamos um buraco a tempo, porque não corrigimos a anomalia. Uma boa forma de começarmos esses consertos por cá, seria alguém processar o sapo de louça. Não creio que vir à televisão mostrar fotografias e apontar o dedo a pessoas chamando-lhes “bandidos”, tal e qual fez o sapo laranja nos EUA, seja algo que possa ser feito impunemente, e devíamos começar a mostrar isso já e claramente.