É já 2021 e, como em todos os primeiros dias do ano, a tentação é fazer uma espécie de balanço do ano passado e, simultaneamente gizar projectos para o futuro, projectos de perfeição tal que, não contentes por trazer amanhãs que cantam, tratam mesmo de consertar o passado, eliminando nódoas aqui e amolgadelas ali, substituindo partes que não têm conserto por memórias de neblina. Soubéssemos nós a banalidade que é a vida e menos nos preocuparíamos com tais resoluções, deixando‑a correr ao sabor de dias mais despreocupados.

Parece ser a importância que nos atribuímos a aconselhar o tipo de resoluções que nos ditamos ao sabor das uvas passas sincronizadas com a contagem decrescente para o novo ano. Uns, mais vulgarmente, tomam decisões condenadas ao fracasso quase imediato, seja deixar de fumar ou beber, ou gastar menos tempo nas redes sociais, e finalmente ir ao ginásio cuja mensalidade está a ser paga desde Janeiros passados. Outros, mais ambiciosos, veem o ano surgir como oportunidade para melhorar a sua existência no plano social, laboral ou familiar, dar-se mais, seja o corpo ao manifesto, seja em “tempos de qualidade” com a família.
E outros há que finamente vão escrever o tal livro, fazer o tal blog, enfim, produzir uma qualquer forma de conteúdo que a Humanidade deve, TEM de conhecer, e que provavelmente não passará da primeira página ou do primeiro post, sendo seguidamente substituídos pelas “notas” publicadas incessantemente num dos pardieiros do costume, de forma telegráfica e com recompensa imediata medida em likes. Talvez não exista vaidade mais mesquinha do que esta. Bem-vindos, então.