Em “Contra a Democracia”, Jason Brennan oferece-nos a divisão de um povo em três classes distintas: Hobbits, Hooligans e Vulcanos. O seu livro, tão provocador quanto reaccionário, traz-nos à memória o que Platão diz acerca do perigo da democracia: quando os ignorantes têm poder, o país derrapa para a tirania. Sabemos que há toda uma distância entre a democracia que Platão viveu e a que se vive agora mas, curiosamente ou não, a solução é a mesma para ambos os autores: uma sofocracia que regule a vontade popular expressa com o objectivo de filtrar as más decisões de um povo ignorante – um pouco à semelhança do que Mr. Spencer e Stevens tão bem demonstram numa das maravilhosas cenas em “The Remains of the Day” – sob a forma da epistocracia de David Estlund, preferida pelo Brennan.

a tornar-se o ícone da MAD. Mais info:
A BOY WITH NO BIRTHDAY TURNS SIXTY.
Brennan conta com uma elite de Vulcanos que tratarão de filtrar a vontade popular e impedir o acesso dos ignorantes ao poder, garantindo a existência de uma elite tal que, a existir, estará apenas interessada no bem comum e não em preservar a sua condição. Tal não acontece. A verdade é que as nossas elites são geralmente o problema, de forma que esta solução apenas é conveniente aos que poderiam subir ao poder, fazendo o que fizessem sem ter de se submeter à vontade popular. Não é de somenos importância pensar que as nossas elites “pensantes” da actualidade mais não são do que uma chusma de Brennans que descartam a Democracia e a vestem com roupagens que, se bem observadas, poderão causar alguns arrepios.
Brennan é simbólico do lodaçal em que se move o sapo de louça: a democracia não serve, por isso arranjemos outra solução; de preferência fácil, de preferência salvaguardando os interesses que nos patrocinam, garantindo a tomada do poder mediante a insatisfação da populaça que irá certamente atrás de uns quantos bitaites ditos por um Blockwart qualquer lá do burgo. Realmente, Hooligans não faltam, quase todos eles uma espécie de promoção dos Hobbits que subitamente ganham “consciência de classe”. E todo este processo baseia-se na simples manutenção da insatisfação aliada à ignorância, dizendo umas coisas como “ditador das pessoas de bem”, ou “eu sou o vosso homem”, elejendo-se assim o Vulcano de serviço que, mais dia, menos dia, colocará os seus Hobbits sob a bota dos Hooligans numa muito característica reviravolta autoritária e repressiva.